Se você gosta de me ler e não o faz há algum tempo, eu insisto que você preste atenção NESSA edição, já que ela é (spoiler) a última desta plataforma.
Cada vez mais leio sobre POSSE — uma sigla em inglês pra algo do tipo “Publique uma vez só, em seu site, e transmita pra todo lugar”. A ideia é ter um site que você pode controlar, editar, modificar e até deletar sem reunir tudo no banco de dados de alguma big tech. Se o Zuckinho resolver desligar o Meta, vocês tem noção que a gente tá fudido? Que eu tenho mais de UMA DÉCADA de informação só no Instagram?
Agora, imagina se eu tivesse guardado isso tudo num site. Que lindo. Que se exploda o açucarado, minhas fotinhas — textos, vídeos, ideias — estariam guardadas… e solitárias, quase com teias de aranha.
Ou você controla, ou você divulga.
Eu penso muito nisso: do que adianta um site lindo cheio de frufrus se, no fim, ninguém o acessa? Será que guardar as coisas lá, só por guardar, é o bastante? Qual a finalidade disso tudo? Qual o significado disso tudo?
Essa newsletter, por exemplo. Esse é o texto número 100 dela, desde que a comecei em 28 de julho de 2022. Meu primeiro artigo (em inglês) teve 37 visualizações e não é dos meus melhores textos, mas nele há o seguinte bloco (que eu traduzo aqui):
Então, como
coloca, a pura existência dessa newsletter — ou de um blog, podcast, jornal, ou qualquer coisa que eu coloque minhas mãos — é a existência dessa newsletter. Não tem segredo, ação de marketing, ou supresa especial. Só há o significado adquirido: essa newsletter — ou meu blog, onde eu mais gosto de escrever — vai se tornar algo diferente conforme o tempo passa. Eles vão crescer ou diminuir — ou até ficar parados depois de quase 400 episódios, como meu então-morto podcast — e a gente vai ver o que vai rolar quando isso rolar.
O blog nunca mais foi atualizado, o podcast voltou esse ano (já são mais de 600 episódios), e a newsletter continuou firme e forte, toda quinzena, e está no artigo número 100. Mas qual o significado dela? Qual a razão de sua existência?
Passei por várias crises durante esse tempo — a maioria sobre alcance. Com certeza os números do Substack são inflados, afinal, segundo a plataforma, eu estou prestes a bater os 400 assinantes, com ±300 visualizações em meu antepenúltimo texto (tive pouquíssimas views no penúltimo e não vi os números do último ainda). Duvido que alcanço tanta gente assim. Meu texto de 15 de janeiro teve 2 comentários e 5 likes — respectivamente 0,6% e 1,6% do total de visualizações.
Fico eternamente pensando: o que mantém essas pessoas aqui? O que faz trezentas fucking pessoas abrirem o email para lerem essas palavras?
Talvez precise revisitar meu primeiro artigo — onde, logo de cara, cito Umberto Eco — e entender que as coisas são o que elas são. Elas, principalmente, se tornam o que devem se tornar. Talvez — e só talvez — tem quem curta o que eu escrevo e goste de ler minhas palavras. Exegese.
Cor de merda, cheiro de merda, gosto de merda
Jonas Marques trouxe, em sua newsletter, o assunto do Substack ser mais uma rede ruim num mar de redes ruins. Esse assunto é batido, vai e volta, e a galera ainda discute e discute e discute.
É engraçado como o fato da rede ser quase-nazi é visto como um grande “pô, foda men”. Saí do Twitter quase que prontamente quando o doido lá tomou conta dele, mas já ouvi mais de uma vez que essa rede é um antro fascista e continuo aqui. Me questiono a razão disso.
Não faltam provas, sabe? Tem isso, e isso, e isso.
Talvez eu ainda esteja aqui por conta do Substack ser útil. Mas até aí, como o título da newsletter do Jonas diz, se há uma mesa com um nazista e 10 pessoas e todas estão conversando entre si, então você tem uma mesa com 11 nazistas.
Pera, eu to sentado numa mesa com os nazistas?
O que adianta eu buscar alcance numa rede que incentiva um discurso que não é compatível com o meu? Meu texto vai chegar em pessoas que não querem ler o que eu escrevo? E outra, eu já escrevi sobre isso no passado: não gosto do modo predatório que o Substack trabalha com seu marketing, com seus deceptive patterns e seu jeito de cooptar as pessoas a seguirem a newsletter das outras sem nem saberem no que estão se metendo.
Cê nem deveria estar aqui, querida
Antes de tudo, pergunto honestamente: você sabe quem eu sou? Se lembra de ter entrado em minha página, visto meu conteúdo, gostado do que escrevo e, então, lembra de inscrever-se nessa newsletter?
No fim das contas, vou unir o útil ao agradável. Não estava feliz com o caminho que essa rede social está tomando — pois sim, o Substack é uma rede social que cada vez mais se encaminha pra se fechar na própria plataforma — e já não gosto do jeito que ela controla meu conteúdo.
E se eu estiver sozinho na mesa?
Infelizmente vivemos na época em que o consumo é exacerbado e a interação é menos que mínima. E não adianta: eu escrevo pros outros — nem tento mais me enganar na idealização de uma escrita para mim mesmo, uma busca que me aterroriza há mais de dez anos. Quero trazer diálogo e estou num eterno monólogo.
Quando entrei pro Substack, achei que ele ia me trazer trocas. Eu mesmo tento citar outras pessoas autoras, outros textos, levar gente pra cá e pra lá… mas não vejo muito acontecer do outro lado.
De duas, uma: ou eu sou ruim ou eu não entendi a proposta.
Tentei propor trocas e não deu muito certo. Busquei pessoas leitoras que interagissem, e recebo comentários das pessoas que já me acompanham no dia-a-dia através das outras redes (o que não era a ideia original dessa plataforma). Pensei em abrir monetização para ver o que aconteceria mas não soube gerir esse conteúdo — afinal, precisaria fechar os textos atrás de um paywall e isso me parece bastante contraproducente.
No fim das contas, prefiro focar minha energia em outras coisas. O tempo que gasto aqui não tem me trazido o retorno que gostaria — nem financeiro, nem filosófico, nem dopamínico.
Mas como?
De volta ao POSSE. Estou com uma coceira que só os criadores compulsivos têm: a de apagar tudo e começar de novo. Tenho essa pira toda semana, quiçá todo dia, e como tenho os meios — sou programador e sei subir um site com blog em poucas horas — fico pensando se não é a hora de refazer tudo. Minha ideia de “novo site” não é muito simples, e segue bem o POSSE:
Homepage: quem eu sou e o que eu faço. Um portal pra outras categorias. Meio o que eu já tenho hoje no meu site pessoal.
Um blog em que posto duas categorias: artigos maiores (tipo os da newsletter) e notinhas (as rapidinhas, só que separadas, tipo o que o Ghedin faz no manual do usuário)
Uma parte de portfolio com meus trabalhos — o que é BASTANTE complicado, já que eu faço um bilhão de coisas e algumas delas se sobrepõe. Precisaria de um jeito de ter um título, uma image, uma descrição, e, talvez, um estudo de caso pra cada uma. Complicado.
Tudo isso gerido com TEXTO — sem CMS, sem aplicações complicadas. Tudo com o bom e velho Markdown.
A magia vem com os scripts — ideias quase impossíveis, mas quem sabe:
Um script roda quinzenalmente e faz um digest: destaca os artigos maiores, faz uma lista de rapidinhas, e manda por email para a lista de assinantes. Ele inclui uma nota se eu postei algo novo no portfolio. Assim eu posso postar quando der na telha, e o script só envia o digest quinzenal.
Outro script faz a parte da distribuição — esse é o quase impossível. Saiu newsletter? Ele posta no Medium e no Linkedin. É técnico? Sindica (anglicismo safado) pro dev.to e bsky. É uma notinha apenas? Bsky. O mais lindo seria se desse pra já postar um story no Insta, mas aí eu to pedindo demais.
Fazer isso tudo iria custar muito tempo e um tanto de grana (já que mandar emails é caro e, como sabemos, se o Substack não te cobra, você que é o produto). Eu ia precisar de um planejamento que não tenho e um pique que, com certeza, iria pro caralho assim que eu percebesse que é um trampo da porra pra fazer o que eu continuo fazendo aqui: escrevendo e esperando que você dedique uma migalha de atenção pra o que eu penso.
Outro problema é que eu não teria um pingo de noção dos números que o Substack me dá — mas, até aí, isso não seria de todo ruim. Afinal, eu sou muito afetado pelos números — já tentei negar mas não consigo, eles me afetam pra caralho. Talvez não tê-los (ou ter números mais “duros” e confiáveis — que eu controle — seja melhor).
Conclusões e fechamentos
Este é, então, o último texto dessa leva da newsletter.
Vou fechar o “apoio pago” (que até hoje me pagou 4 reais mensais nos últimos 6 meses) e só volto para avisar quando enfim lançar uma nova plataforma. Vou manter os textos aqui até que consiga fazer backup de tudo e republicá-los nesse novo lugar.
Foi bom enquanto durou, mas como tudo na vida, as coisas acabam.
E, como tudo na vida, as coisas nascem.
Como disse ali em cima, eu vou focar em outras coisas. No momento — e em uma última quasi-rapidinha, estou com os seguintes projetos em andamento:
No meu emprego atual — que é o projeto que paga minhas contas — estou prestando serviços para a Harvard Business School. Nunca fui tão chique.
Estou construindo uma Senhora Plataforma para a Positiv, minha empresa de eventos para pessoas queer & LGBTQIA+ que gostam de ficar peladas juntas. Chega de formulários e tabelas do Google. To usando NextJS, Supabase, Contentful, e mais um monte de coisa. Quem sabe falo mais no futuro.
A Positiv por si só vai de vento em popa. Eventos mensais que lotam com dois dias após a abertura das inscrições, e gente de outros estados vindo só pra experimentar o rolê. Fico feliz.
Estou escrevendo um livro sobre surubas com minha sócia. Ele está num estado super inicial, mas a pesquisa tá me dando bastante tesão (pun not intended) e eu to lendo livros muito divertidos.
A faculdade está ótima — tirando essa aula de agora, que uso para escrever este texto. Ainda tem muita água para rolar mas to animadaço (e fiz as pazes sabendo que talvez eu seja programador pra sempre e use a grana pra financiar meus projetos como psicólogo).
Estou finalizando (de novo) meu podcast. Prometi uma nova temporada de 100 episódios mas, novamente, tenho só 3 ouvintes por episódio e isso me deixa bem meh — igualzinho essa newsletter. Decidi matá-lo de vez e usar essa energia em qualquer outra coisa.
Agora é tarde, mas se você quiser deixar seu carinho aí nos comentários, eu agradeço.
E, por fim, até a próxima. Tomara que a gente se encontre por aí
Admiro o movimento e queria fazer algo parecido, mas, diferente de ti, não sou programador hahah. Sobre a falta de interação aqui e em todo lugar: tem coisa demais, cara. Eu te leio sempre, mas a frequência é “quando dá”. E assim com toda a gente querida. Me sinto em falta com vc, e vc desprestigiado por mim/nós. Sei lá qual é a solução. Manda uma página xerocada por correio pra todo mundo kk (nem acho má ideia, viu)
Mande notícias sobre a nova plataforma. :)
Sentirei saudades dos seus e-mails na minha caixa de entrada.